Prefeitura do Recife e Governo do Estado são fortemente criticados durante o Fórum Nordestino da bicicleta

Por Daniel Guth
Organizações realizam a Assembleia final do Fórum. Foto: Daniel Guth
Organizações realizam a Assembleia final do Fórum. Foto: Daniel Guth

Terminou neste domingo, na cidade do Recife, o primeiro Fórum Nordestino da bicicleta. Foram quatro dias de intensos e empolgantes debates sobre a realidade e o futuro da bicicleta e das organizações de ciclistas do Nordeste.

A próxima sede do evento (que acontecerá em 2016) foi decidida durante a Assembleia Geral, ao final do evento. Será a cidade de Fortaleza, que contou com uma extensa delegação de ciclistas nesta edição recifense, contribuindo enormemente para os debates e trazendo realidades e pontos de vista urgentes e necessários.

Um dos destaques desta edição ficou com a própria associação organizadora, a Ameciclo – Associação Metropolitana de ciclistas do Grande Recife que, além de garantir impecável estrutura e excelente localização para a realização do Fórum, pensou cuidadosamente nos conteúdos dos painéis, palestras e debates. Entre os temas debatidos e que mais suscitaram a necessidade de mais aprofundamento estão: 1) a questão de gênero e do papel da bicicleta no empoderamento feminino; 2) bicicleta e periferia, discussão fomentada especialmente pela cidade de Fortaleza; 3) o desenvolvimento e o fortalecimento do cicloativismo nas cidades nordestinas, especialmente onde ainda não há movimento social e horizontal conhecido e estabelecido (como Teresina e São Luis); 4) a cultura da bicicleta nas cidades de pequeno e médio porte e a ascensão da motorização, especialmente das motocicletas, nestas cidades.

Segundo Daniel Valença, um dos coordenadores do fórum e coordenador geral da Ameciclo, “a participação dos voluntários e das demais cidades nordestinas foi fundamental para a realização de todas as atividades”. Já a ausência do poder público local – tanto da Prefeitura do Recife quanto do Governo do Estado – foi interpretada pelos ciclistas como uma demonstração de descaso e abandono. “Há uma hipocrisia no discurso que vende cidade para as pessoas, mas que na realidade são as mesmas inversões de prioridades colocando a bicicleta em último patamar no planejamento e execução de ações”, afirmou Valença. “Enquanto isso, o poder público de Fortaleza e de São Paulo se fizeram presentes no fórum e no painel ‘Estimulando as bicicletas nas capitais’ e até em todas as demais discussões do fórum, mostrando total interesse na pauta da bicicleta”, conclui.

A cidade do Recife possui um bom Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife (PDC), cuja construção participativa culminou em um planejamento de 540 km de estruturas cicloviárias a serem implantadas em 10 anos. Isto fez com que todo o planejamento cicloviário se concentrasse nas mãos do Governo do Estado, que ainda não foi capaz de responder à altura das expectativas e do próprio planejamento proposto no PDC.

Para o arquiteto e urbanista Pedro Guedes, “a prefeitura faz muita propaganda da ciclofaixa de lazer (implantada nos primeiros meses da gestão), mas não fez quase nada de infraestrutura fixa e não seguiu nada do plano diretor cicloviário até agora”. O Governo do Estado, segundo ele, “está mais preocupado com o lazer em Fernando de Noronha e com eventos como o Tour de France do que com a mobilidade por bicicletas na região metropolitana do Recife”.

Seis organizações de ciclistas de inúmeros Estados do Nordeste estiveram envolvidas tanto na organização quanto nos debates e painéis do Fórum. São elas: a Ameciclo (Recife), Ciclovida (Fortaleza), Ciclourbano (Aracaju), Mobicidade (Salvador), ACIRN (Natal) e a CicloMobilidade (Maceió).

Finalmente, urge saber quais serão as respostas do poder público com relação à bicicleta no Recife. Uma cidade com uma intensa e rica cultura da bicicleta – evidenciada pelo fato de que 13% de todas as viagens diárias, na cidade, são feitas em bicicleta (IDOM/Tectran, 2013) – demanda um plano de ação urgente e factível. Aparentemente este plano já existe e também já conta com o apoio e engajamento da sociedade civil, notadamente etapas sempre complexas na construção de qualquer política pública democrática e participativa. Resta saber quando deixará de ser história de pescador e começará a sair do papel.

Foto: Ameciclo
Foto: Ameciclo